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[Opinião] Nordestino de Coração Torce para Time da sua Região?

Por Tiago Queiróz

Onde está escrito que “nordestino de coração” tem que necessariamente torcer para time da sua região? Desde meados dos anos setenta, o cantor e compositor Caetano Veloso já dizia que é “proibido proibir”. Um adendo: nascido em Santo Amaro, na Bahia, o artista nordestino é aplaudido e venerado Brasil a fora. No entanto, no âmbito esportivo, mais precisamente no futebol, há uma corrente que tenta a todo custo contrariar a frase do artista santoamarense e rotulando os torcedores nordestinos que torcem para times do sul/sudeste. Tal argumento é justificado pelo histórico preconceito a qual a população nordestina é vítima. Justifica-se?

Não é pretensão desse texto negar as mais diversas formas de preconceitos a que são submetidos os brasileiros nascidos no Nordeste do país. “Paraíbas”, “cabeça chata” ou “baiano” são algumas das expressões pejorativamente repetidas nas regiões sul e sudeste em relação aos que nascem na Bahia, Maranhão, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. É inegável também o abismo financeiro entre clubes como Flamengo e Corinthians, primeira e segunda maior torcida do Brasil, em relação aos times do Nordeste. Tal abismo é evidenciado na própria distribuição do valor das cotas de TV.

Torcendo para times da sua região, o torcedor nordestino estaria contribuindo para o fortalecimento, sobretudo financeiro, dos clubes do seu estado? Sem dúvidas! Mas qual o caminho para isso? Rotular? Patrulhar? Acirrar a rivalidade e estimular o preconceito? Creio que não.

Elevar autoestima dessa população, através de ações de fato efetivas, é que vai estimular que um jovem garoto, nascido em Salvador, torcedor do Vasco, troque a paixão pelo time carioca, pelo Esporte Clube Bahia. A situação demanda principalmente criatividade dos nossos gestores. É preciso olhar além do óbvio, sair do lugar comum…

Eu, por exemplo, comecei a torcer para o Flamengo ainda aos sete anos. Posteriormente, por influência de meu avô paterno também foi despertada em mim a paixão pelo também rubro-negro Vitória.

Os “patrulhadores” me rotulariam de “misto” ou “vergonha do Nordeste. “Baiano que torce para time Rio de Janeiro ou São Paulo tem mais é que se f…”, “Carioca quer mais é que baiano se lenhe”, “Nordestino de coração torce para time de sua região” são algumas das frases que escuto há mais de trinta anos.,A que serviu efetivamente aos clube do Nordeste esses tipos de comentário? Ajudou em alguma coisa? Não, não.

Ao longo desse tempo houve uma simples mudança de cenário: os garotos que outrora torciam para Corinthians, Palmeiras, Flamengo ou São Paulo hoje colam na TV para assistir ao Barcelona, PSG, Manchester City e Real Madrid. Nos campos de futebol Brasil a fora os torcedores mirins vestem camisas com os nomes de Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar.

O caminho para que times do Nordeste conquistem o coração e mente dos torcedores “nativos” é gestão e profissionalismo. A Copa do Nordeste é um exemplo disso. A bem sucedida competição pode servir de arma de grosso calibre para que Bahia, Sport, Ceará ou Fortaleza, por exemplo, possam começar a bater testa com os grandes ($$$) do país. Tudo é questão de trabalho. A mudança se dará de forma progressiva.

Violência – Sem essa também de “racismo reverso”. Um episódio ocorrido no último sábado (9) no jogo entre Fortaleza e Flamengo, na Arena Castelão, quando um cearense, torcedor do rubro-negro carioca, foi covardemente agredido não pode servir de argumento para aqueles que defendem a liberdade de torcer para o time que quiser, independente das barreiras geográficas. O episódio trata-se de um caso de violência e deve ser discutido na esfera policial.

Me despeço, mais uma vez recorrendo, ao cantor santomarense: “E eu digo “sim”./ E eu digo não ao “não”/ E eu digo: é proibido proibir / É proibido proibir / É proibido proibir / É proibido proibir / É proibido proibir.

*Tiago Queiróz é jornalista e torcedor dos rubro-negros baiano e carioca.