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[Opinião] Os trens do subúrbio, sua falta e impactos sociais

Por Aldo Queiroz*

O ano de 2021 não tem sido  fácil para a população soteropolitana. Apesar do
alívio trazido com a chegada da vacina contra a covid-19, os moradores da
região do subúrbio perderam um importante meio de locomoção, os trens que
faziam a ligação de Paripe com a região da Calçada. Com 10 paradas ao longo
do percurso, os passageiros tinham como cenário a Baia de Todos os Santos.

Foram mais de 160 anos em operação na capital baiana e hoje quem dependia
daquela modalidade de transporte público para se locomover, escoar suas
mercadorias, sofrem com a falta de um transporte que atenda suas
necessidades e ao mesmo tempo, que seja de baixo custo. A passagem para
esse itinerário custava r$ 0,50.

Com base em pesquisas do Ministério Público de 2019, foi constatado que
metade dos usuários possui uma renda mensal familiar de 1/3 de um salário
mínimo, ou seja, o impacto direto com a extinção da linha, é uma ação que
acarreta na diminuição da possibilidade de locomoção dos moradores da
região, uma vez que a diferença de valor do transporte convencional é muito
maior.

Estudos comprovam ainda que para a implantação do VLT (veiculo leve sobre
trilhos), modal substituto dos trens, não seria necessário a desativação da
malha férrea, caso o projeto inicial proposto pelo Governo do Estado fosse
aprovado. Este permitiria ainda uma alternância da utilização das linhas tanto
pelo VLT quanto pelos trens, o que permitiria ainda a concretização de um
desejo antigo de religar o porto de Salvador através da linha férrea e uma
expansão para o resto do estado, um desejo antigo de reativar toda a malha
férrea baiana.

O que se viu foi que no andar do processo foram problemas por conta de um
edital frágil e outras questões decorrentes da situação política do país com
escândalos de corrupção, o que impediu empresas nacionais de participarem
do edital e apenas uma empresa concorreu e a mesma não possui experiência
em VLT e assim o governo, que não dialogou com a comunidade e nem com
os movimentos sociais em defesa do trem da região, impuseram a
implementação do monotrilho com a mesma sigla, mas com significados
distintos (Veículo Leve de Transporte), uma vez que o monotrilho não
reaproveita a estrutura já existente.

O resultado disso é este desastre que vemos hoje, os trens extintos para dar
lugar a uma obra que ainda trará muitos custos aos cofres públicos e uma
população prejudicada. A eliminação da linha férrea prejudica a identidade
cultural do subúrbio, os pequenos produtores, marisqueiras, pescadores e
feirantes da região que contavam com essa opção barata para escoar e vender
seus produtos.

Ainda, segundo um estudo de viabilidade para o monotrilho realizado pelo
próprio governo do estado, o monotrilho só atingirá a capacidade de 120 mil
usuários no ano de 2039, sendo que o edital garante 170 mil usuários por dia.
Isso significa que o estado terá que arcar com os custos financeiros da
diferença entre usuários reais/dia e o que foi estabelecido com a assinatura do
contrato.

O Estado além de retirar o poder de locomoção de uma população
economicamente afetada, que tem entre seus usuários pessoas vivendo abaixo
da linha da pobreza, trará também o endividamento dos cofres públicos.

Vale lembrar ainda que os trens do subúrbio são uma das maiores riquezas da
nossa capital, considerando a sua importância histórica e cultural, a perda
desse patrimônio nos empobrece enquanto sociedade.

*Aldo Queiroz é soteropolitano, ex-candidato a vereador e ativsta social