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[Opinião] Salve Pedro e Antônio; Viva João!

Por Marcelo Oliveira*

13 de junho é Dia de Santo Antônio. 24 é dedicado a São João, e 29 a São Pedro. Essa tríade resume o que convencionou-se chamar de festas juninas, as celebrações populares mais democráticas da Bahia, do Nordeste e do Brasil. 

Enquanto o Carnaval ainda é um fenômeno mais circunscrito aos centros urbanos, as festas juninas, guardadas as peculiaridades regionais, são celebradas em toda a parte, de norte a sul, de leste a oeste desse imenso país. 

O São João é a celebração do sertão que habita em todos nós, onde quer que estejamos. Uma celebração que remonta ao século XVII, e que com o passar do tempo só vem ganhando mais força e adesão. Luiz Gonzaga é a expressão maior da cultura junina, não apenas pela genialidade de suas canções, mas por apresentar ao Brasil um gênero raiz chamado forró em toda a sua crueza. Com sua sanfona de sete baixos, Gonzagão levou para o horário nobre das emissoras de TV os trios nordestinos compostos ainda por zabumba e triângulo e consagrou a imagem do sertanejo nas vestes típicas do vaqueiro, com chapéu, gibão e sandálias feitos de couro.

O caminho pavimentado pelo Rei do Baião foi trilhado por outros artistas do primeiro quilate da música popular brasileira, como Dominguinhos, Sivuca, Alceu Valença, Gilberto Gil… Entretanto, este universo do xote, do xaxado e do baião andou muito tempo restrito ao Nordeste e apartado de uma outra forma de expressão da cultura junina que é a chamada música caipira, que retratava o ambiente rural e campestre do centro sul do país. Essa fronteira foi gradualmente sendo apagada até chegarmos ao ponto de fusão entre o forró e o sertanejo. 

O forronejo é um produto de indiscutível sucesso comercial. E conquanto sua qualidade seja muitas vezes contestável, é inegável que a massificação do trabalho de bandas como Aviões do Forró,  Mastruz com Leite e Calcinha Preta, de duplas como Simone e Simaria e Jorge e Mateus e de cantores como Gustavo Lima, Paula Fernandes e Luan Santana, entre outros, deram um novo impulso e ajudaram a consolidar a música e cultura que nasce a partir dos festejos juninos.

São estes artistas que estarão embalando os maiores shows que felizmente voltarão a ser vistos no próximo mês de junho em todo o país, depois de dois anos de pandemia. Lamentavelmente, não estará entre nós aquela artista que considero a maior revelação do gênero: Marília Mendonça, falecida em novembro passado. A comoção em torno do acidente aéreo que ceifou a vida de Marília Mendonça corrobora a tese de que o forronejo é um artigo popular de largo espectro, alcançando consumidores de todas classes sociais, credos, origens, gêneros e ideologias.

Essa eclética rede de cantores, músicos, dançarinos e de profissionais responsáveis pela montagem das estruturas de palco, iluminação e som do setor de eventos é apenas um segmento da complexa e intrincada cadeia produtiva do São João. Porque em festa junina que se preze não podem faltar fogos e fogueira, roupa bonita pra dançar a quadrilha, mesa farta de licores, doces e quitutes típicos para receber os familiares e amigos. E tudo isso movimenta a agricultura, o comércio e a indústria. 

Mais do que dinheiro, o São João promove uma incrível movimentação de gente, um verdadeiro êxodo urbano. São dezenas, centenas de milhares de pessoas se deslocando dos centros urbanos para o interior de ônibus, carro e avião para rever os familiares e curtir o feriado. Esse turismo espontâneo retroalimenta a economia, gerando uma oportunidade de geração de renda extra para as famílias que vivem nos mais distantes rincões e encontram nas festas juninas uma oportunidade única de gerar receita oferecendo hospedagem e os mais diversos produtos e serviços para os visitantes.

Mais do que a expressão da nossa cultura, está de volta o fenômeno que redistribui riquezas, gera receitas, cria oportunidades de negócios, faz circular pessoas e produtos, espalha alegria e renova a esperança por todos os cantos da Bahia, do Nordeste e do Brasil. As festas juninas são a expressão da economia criativa em sua mais perfeita gênese: ativa e operante. Salve Pedro e Antônio; Viva João! E que sejam bem-vindos todos aqueles que os santos festeiros trouxerem consigo!

*Marcelo Oliveira é bacharel em direito, servidor público e pré-candidato a deputado estadual pelo PSB